sexta-feira, 22 de maio de 2009

MEMORIAL DE PENHA

Da infância...

Filha de agricultores, a caçula, cresci convivendo com o trabalho árduo do campo entre o milharal e
o feijão que eram as plantações cultivadas pelos meus pais. No inverno, a lagoa em frente a casa, produzia muito junco e os passarinhos reproduziam-se, eram tantos ninhos. Minha vontade era levar um filhote para criar,mas minha mãe não deixava, então quando queria ver os bichinhos ia lá.

Mesmo pequena já tinha responsabilidade, ajudava a cuidar dos animais, pegava água na fonte,
fazia companhia a meu pai na sua lida. Ele tinha problema de saúde, precisava de cuidados.

Aos sete anos fui pela primeira vez à escola que ficava a seis km de casa.Ficava na casa de meu irmão. Estudei o ano todo, mas tive que parar porque não tinha onde ficar, o único parente na vila retornou para a roça.

Da adolescência...

Continuei estudando na casa de uns conhecidos próximos a minha. Não podia ir sozinha, ficava esperando os colegas passarem para ir com ele. No dia em que não vinham, chorava porque não ia para a escola. A sala de aula era a varanda da casa. Era uma mesa grande, bancos ao redor. A professora fazia as atividades no caderno, no início nem quadro-negro havia.

Em casa, meus pais se orgulhavam quando eu escrevia os nomes de todos nas paredes da casa de farinha. Minha vida era ajudar no trabalho do campo, estudar...Chegou um momento que já sabia o mesmo que a professora. Cheguei até a substituí-la durante um mês.

A partir daí tive uma certeza: não viveria na roça pelo resto da vida. Precisava estudar para fazer outra coisa que não fosse o trabalho do campo.

O retorno...

Aos quinze anos voltei à escola de infância para estudar a 4ª série, não tive dificuldades, consegui acompanhar a turma e, no ano seguinte, passei para a 5ª série e não parei mais de estudar. Sempre estudei em escola pública. Desde pequena achava que o estudo era a saída para tudo, para a vida.


Da maturidade...

O casamento veio muito cedo. Entre um filho e outro, suspendia o estudo. Quando podia, voltava a estudar. O objetivo persistia: aprender a cada dia na escola, na vida.
Com muito esforço consegui terminar o Ensino Médio. Já não morava mais na roça. Já me sentia mais próxima da universidade.

Do sonho à realização...

Um ano depois entrei na Faculdade de Formação de Professores de Petrolina. Passei em Letras. Foi o dia mais feliz da minha vida, igualmente quando passei no concurso em 1997. Meu primeiro emprego.

Tornei-me professora. Meu trabalho é muito importante para mim. Foi um presente de Deus. Procuro passar para as pessoas que quando queremos muito uma coisa e temos fé em Deus
podemos conseguir.


Ao ingressar na prática docente, senti, mais fortemente, o quanto se deve dar importância a escrita e a leitura crítica. Quando iniciei minha prática, percebi a real necessidade de se trabalhar a leitura e produção de textos com meus alunos.
Ainda lembro a produção de um aluno do Ensino Médio.Não havia uma palavra correta, além disso, a coerência e coesão, de um modo geral, praticamente, não existiam. Isso me angustiou bastante. Por isso meu trabalho tem como foco a leitura, escrita e reescrita de textos.

Em 2007 e 2008 os textos dos meus alunos viraram livros: " CONSTRUINDO IDEIAS ATRAVÉS DE VERSOS E PROSA" volumes I e II, são textos produzidos no decorrer do ano letivo, escritos e reescritos em sala de aula. Não posso dizer que foi só contentamento desenvolver esse trabalho. Muitas vezes a turma reclamava de tanto refazer aquele texto. Por outro lado, sentia enorme prazer ao perceber a alegria daqueles que descobriam uma palavra adequada para uma determinada situação.

Para mim e para aqueles alunos foi de uma gratificação imensurável. Principalmente na noite de autógrafos.

Hoje, como cursista do Gestar, continuo a estudar e vejo que é um material, que de certa forma contribui no planejamento das aulas e ainda oportuniza a troca de experiência nas socializações durante as oficinas. O programa contribui, também, na formação profissional, mostra que é preciso estudar mais para dar uma aula melhor, mais produtiva. É uma forma até de voltar a aprender para colaborar na formação do educando.

Um comentário:

  1. Fiqeui emocionado com seu memorial, show de bola, continue assim em busca do saber sempre!
    Beijos
    Nazarete

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